PRÁTICAS RELIGIOSAS DE CURA: JOHREI
RESUMO
O objetivo deste estudo
é apresentar pesquisas realizadas sobre uma das práticas de terapia de saúde da
pessoa, através da fé. Essa prática é feita pela canalização de energias
“divinas” com a imposição das mãos. Paulatinamente, vêm se inserindo de maneira
indireta no “rol” das práticas complementares e integrativas de saúde, o
Johrei. Prática religiosa de cura, de origem japonesa, pouco explorada no campo
saúde-doença-cura, mas utilizada por muitas pessoas. Entretanto, depois de
algumas pesquisas científicas sobre os efeitos que vem causando na melhoria da qualidade de vida de algumas
pessoas, passou a ganhar novo significado.
Pretendemos ainda, demonstrar
toda a importância que essa prática vem contribuindo com o
cuidado e atenção à saúde dos indivíduos. Desde já, pontuando as dificuldades
encontradas no desenvolvimento dessa pesquisa, frente à escassez de trabalhos
na literatura. Tivemos como referência os poucos trabalhos bibliográficos
existentes relacionados ao tema, informações disponíveis em sites de internet
(todos fundamentados na doutrina filosófica da religião em questão), e pesquisa
de campo.
INTRODUÇÃO
Sabemos a situação em que
se encontra os serviços de saúde, suas deficiências e falhas, muitas vezes
moldado num cartesianismo persistente, frente às desigualdades e exclusões
sociais ficando muitas vezes os serviços de saúde distante do que deveria ser,
tanto pelo difícil acesso, quanto à qualidade e humanização na atenção à saúde,
os quais são contraditórios aos princípios que o SUS (Serviço Único de Saúde),
que preconiza a Universalidade, a Integralidade e a Equidade.
Nesse contexto houve um
aumento significativo de doenças crônicas degenerativas, novas epidemias e
resurgimento de endemias, patologias ligadas ao estilo de vida da modernidade
que o individuo leva, entre outras. Com isso, aumentando a procura por serviços
de saúde, em consequência disso há uma superlotação desses serviços. A medicina
tradicional e os sistemas de saúde não tem conseguido suprir as necessidades
das pessoas. Nesse cenário novos paradigmas de saúde vêm surgindo, as chamadas:
“terapêuticas alternativas de saúde, posteriormente designada, medicinas
complementares”, Madel Luz, 1997.
Cada vez mais as pessoas procuram alternativas
que aliviem seu sofrimento, que seja por serem acessíveis economicamente ou que
não causem tantos efeitos colaterais, que seja por insatisfação com o modelo
biomédico em busca de um outro olhar, que a medicina tradicional não oferece: a
atenção, a escuta, o foco direcionado no sujeito e não na doença. O fato que
podemos constatar é a crescente busca pelos profissionais com alguma formação
em terapia complementar. Também denominados pela Organização Mundial de Saúde
(OMS) de medicina tradicional e medicina complementar/alternativa, associadas.
A primeira congrega saberes, práticas e crenças nativas em diferentes culturas.
A segunda diz respeito a cuidados em saúde que não estão efetivamente integrados
ao sistema dominante de atenção médica.
Segundo Marcelo Saad
e Cristiane Isabela de Almeida:
A medicina integrativa
é a combinação de tratamentos pela medicina convencional e pelas terapias
complementares para as quais haja evidências científicas sobre sua segurança e
eficácia. Terapias complementares são as práticas que não são consideradas
atualmente parte da medicina convencional. Embora muitas modalidades
terapêuticas não convencionais já tenham passado pela análise científica, ainda
há muito desconhecimento e preconceito por parte dos profissionais de saúde.
É importante resaltar
que o campo dessas práticas integrativas e complementares de saúde é um termo
recente no sistema de saúde do Brasil, apesar de ser um método empírico
utilizado há muito tempo. Contudo, essas práticas passaram a ser investigados e
validados pelos setores competentes e notadamente já se mostram crescentes,
muitas clínicas particulares, comunidades tradicionais, igrejas e serviços
públicos de saúde, já se utilizam dessas práticas associados a modelos
tradicionais no processo saúde/doença/cura. Dentre essas práticas estão: Medicina
Tradicional Chinesa, Homeopatia, Fitoterapia, Termalismo Social/Crenoterapia e
Medicina Antroposófica. No entanto, outros métodos utilizados empiricamente
pelas comunidades não foram contemplados pelos organismos governamentais,
dentre essas terapias estão as praticas religiosas de cura, mais precisamente o
Johrei, a qual será objeto desse trabalho.
ORIGEM
DO JOHREI
A crença no Johrei é o elemento principal da Igreja
Messiânica que é a transmissão da Luz Divina através da imposição das mãos e
pode ser praticado por todos os messiânicos. Segundo a doutrina messiânica, o
Johrei traz a purificação espiritual através da eliminação das máculas
espirituais, que são a causa dos sofrimentos dos homens, com isso trazendo o
bem-estar físico e psíquico. Os praticantes realizam inúmeras atividades
religiosas, tais como: homenagem aos antepassados, orações diárias, cultos
mensais e o ritual voluntário de cura centralizado na canalização da energia
vital do universo, Johrei.
Johrei é uma palavra
criada por Meishu-Sama com a junção de dois ideogramas da língua japonesa que
significam JOH – “purificar” e REI – “espírito”. Considerado um “sagrado ato de
purificação”, o Johrei purifica as impurezas do homem e possibilita que ele se
eleve espiritualmente para níveis onde a luz é mais intensa: fonte de saúde,
sabedoria e felicidade. O processo da terapia com Johrei é muito simples, um
ministrante preparado e outorgado (autorização para ministrar), canaliza as
energias, através da imposição das mãos sobre a pessoa que está recebendo essa
prática, porém sem qualquer contato físico. Segundo
a crença alguns fatores são primordiais na eficácia do tratamento dessa prática,
como: a espiritualidade, a fé, a busca pela elevação moral e o altruísmo
(comuns para ministrante e recebedor).
O Johrei é
difundido pela Igreja Messiânica em todo o mundo, introduzido por Mokiti Okada,
também conhecido por seu nome espiritual, Meishu-Sama (que significa Senhor da
Luz). Mokiti Okada nasceu em 23 de dezembro de 1882 na cidade de Tóquio, desde
criança foi uma pessoa dedicada às artes e preocupada com os problemas da
humanidade. Após inúmeras dificuldades na vida familiar e empresarial, ele foi
cada vez mais se aprofundando na filosofia, na religião e no estudo sobre a
origem do sofrimento. Em 1935, Mokiti Okada inicia no Japão um novo movimento
religioso, conhecido como “Sekai Kyusei Kyo” ou Igreja Messiânica Mundial
(IMM), em português. Ele fundou essa igreja com o objetivo de concretizar o
ideal e de construir um mundo consubstanciado na verdade, no bem e no belo,
isento de doença, pobreza e conflito. Sendo o espiritualismo e o altruísmo,
bases essenciais para a concretização desse mundo ideal. A IMM é uma igreja que acredita na existência
de Deus, do Mundo espiritual e o Mundo material. É universalista, sincretista,
individualizada, propõe liberdade religiosa e seus textos sagrados são os
“Ensinamentos de Meishu-Sama”.
No Brasil, a religião messiânica foi introduzida em
1955, através da imigração japonesa, foi disseminada pelos trabalhos dos
missionários Minoru Nakahashi e Nobushiko Shoda. Mesmo ano do falecimento de
Meishu-Sama. De 1955 à 1965, a expansão
ficou restrita a comunidades descendentes de japoneses. A partir de 1965, com a
vinda do reverendo, Tetsuo Watanabe a expansão adquiriu outra natureza,
ampliando para todos, japoneses e brasileiros, aliando as tradições orientais com
os costumes do ocidente.
Essa religião chegou à Bahia em 1971 com
a chegada de um membro messiânico do Rio de Janeiro, a Srª Anoka Costa, fez da sua
casa- “Casa do Johrei”- onde ela convidava as pessoas para receber o Johrei,
com o tempo muitas pessoas passaram a frequentar sua casa, com isso houve a
necessidade de construir uma casa que desse para abrigar todas essas pessoas. Então,
em 1974 foi construída no bairro da Liberdade uma nova “Casa do Johrei”. Hoje, soma-se 60 unidades na Bahia, sendo que
18 delas se concentram na Grande Salvador.
PRINCÍPIOS
DO JOHREI
O principio do Johrei, segundo a doutrina messiânica tem como fundamento
as leis da natureza (Sol, Lua e Terra), o Sol origem do elemento fogo, a Lua
como origem a água e a terra o elemento solo. Sendo o espírito a essência do
Sol, o corpo físico a essência da Lua e da Terra. Nesse contexto para a
doutrina o corpo humano é formado pela trilogia: fogo, água e terra que se
relacionam respectivamente com o coração, o pulmão e o estômago. O coração que
absorve através das contrações cardíaca a energia espiritual do elemento fogo,
o pulmão através da respiração absorve a energia espiritual do elemento água
que provém da atmosfera e o estômago através da digestão dos alimentos absorve
a energia espiritual do elemento terra. Sendo o órgão mais importante o
coração, pois ele que nutre o pulmão e o estômago. Para os messiânicos os
problemas da vida devem sempre basear-se nessa trilogia.
A doutrina clarifica o entendimento sinalizando que nem tudo no universo
é constituído só de matéria, mas também de uma parte espiritual invisível aos
nossos olhos, assim o homem é constituído de matéria e espírito. Com isso,
tanto o espírito quanto a matéria tem uma relação bem estreita um com o outro.
É no espírito que está localizada a consciência, no centro da qual esta a alma
e nessa trilogia (corpo, espírito e alma), manifesta a vontade do pensamento
que governa o corpo.
Nesse contexto o espírito é o
principal e a matéria é o secundário, isto é, o espírito precede a matéria,
então todo o corpo é comandado pela vontade do pensamento, até a doença obedece
ao mesmo principio. Esse princípio não se aplica apenas ao ser humano e sim a
todo o Universo. Tomando o exemplo do furúnculo dado pela doutrina, seria: o
furúnculo surge no corpo, depois vai formar um orifício de saída, onde vai
eliminar um sangue purulento, essa eliminação é como se fosse uma purificação
das máculas existentes numa parte do espírito. A doença é o aparecimento e o
transcurso do processo de purificação.
OBJETIVOS
O objetivo
dessa prática é eliminar as máculas espirituais num método natural de
canalização da infinita energia vital do universo, para o aperfeiçoamento
espiritual e físico do ser humano, restaurando sua condição original de
verdadeira saúde, prosperidade, paz e nobreza de sentimentos. Segundo os
ensinamentos dessa religião, a finalidade não é somente a cura das doenças,
pobrezas e conflitos, mas também despertar a natureza divina no interior do
homem, para que este venha a alcançar a verdadeira felicidade e salvação, que
está pautada em três pilares: Johrei, o Belo, Agricultura Natural e nutrição
livre de produtos químicos. “Praticando o Johrei, alimentando-se
com alimentos naturais e cultivando o Belo no seu dia a dia, certamente você
estará consolidando na sua vida, três colunas: a verdadeira Saúde, da
Prosperidade e da Paz”. Núcleo de Johrei da Vila Rezende, 2009.
CONCEPÇÃO
DA SAÚDE- DOENÇA-CURA PARA OS MESSIÂNICOS
Para a doutrina a saúde não é a ausência de doenças,
mas a ausência de toxinas no corpo, que poderão ser eliminadas através do
Johrei, recebendo a Luz divina e praticando os ensinamentos. Dentro
dessa perspectiva, até a medicina reconhece
que o homem carrega várias toxinas no corpo e que são eliminadas
fisiologicamente. Para os messiânicos essas toxinas com o passar do tempo elas
vão se solidificando a tal ponto que ultrapassa o limite e ai começa o processo
de purificação que é a doença, sofrimento decorrente da eliminação
de toxinas, ela é processo de purificação do sangue, indispensável à manutenção
da saúde.
APLICAÇÃO DA PRÁTICA
Qualquer pessoa pode ser capacitada a ministrar
Johrei, sendo preciso, para tanto, que se identifique com a doutrina e
conhecimentos da mesma, que são ensinados pelo movimento religioso através de
um curso preparatório, Curso de Iniciação, com duração de três a cinco dias. Ao
final deste curso, recebe o Ohikari,
uma medalha sagrada de papel onde está escrita a palavra Hikari que significa Luz, e que deve ser pendurada no pescoço, pois
segundo os ensinamentos de Meishu-Sama, para que os efeitos se manifestem o
Ohikari tem que estar próximo do peito do ministrante, o qual transmitirá as
ondas de Luz através do corpo, do braço e da palma da mão. Então, a partir daí,
esse membro pode ministrar Johrei seguindo os seguintes rituais: manter
distância em relação ao recebedor de mais ou menos 30cm a um metro, ministrar
tanto na parte anterior, quanto na parte posterior do corpo do recebedor, com
duração média de 10 a 30 minutos e
praticar com altruísmo. De acordo com a doutrina messiânica qualquer
pessoa independente de sua crença pode ser recebedora do Johrei e caso deseje
ser mais um membro messiânico deverá passar por treinamento da doutrina.
A PRÁTICA NA ATUALIDADE
O Johrei é uma técnica de tratamento japonesa que,
segundo os adeptos, amplia a força de recuperação natural do homem. As
"ondas de energia" são canalizadas a partir da "energia cósmica
superior" e podem ser transmitidas por qualquer pessoa adequadamente
preparada. A aplicação da técnica é feita pela imposição das mãos. Essa prática vem
despertando o interesse de muitos pesquisadores em todo o mundo.[1]
Pesquisas realizadas nos Estados
Unidos, com o mapeamento das ondas cerebrais, mostraram a presença de ondas
Beta, que indica pessoas nervosas e estressadas antes de iniciar o Johrei. Com
a prática alternativa da imposição das mãos, altera drasticamente a eficiência
imunológica da pessoa, surgem as ondas Alfa, que só aparecem quando a pessoa
está relaxada ou concentrada, e as ondas Theta, que só ocorrem em meditação
profunda. Quando a pessoa se encontra nesse estado, o cérebro aumenta a
produção de betaendorfina, que acalma a dor ou o estresse e circula em todo o
corpo. Com isso, revitalizando as células
NK(Natural Killer Cell), tipo de linfócito responsável pela defesa do corpo
humano. Segundo o Dr. Mandooh Ghoneum, da Dre/UCLA- University of Medicine and
Science da Califórnia, as atividades dessas células aumentou de duas a três
vezes quando a pessoa foi submetida ao Johrei, pelo menos meia hora durante
trinta dias seguidos. [2]
No Brasil essa prática vem ganhando cada vez mais adeptos atualmente alguns hospitais começaram
a experimentar essa prática em paralelo ao tratamento médico convencional das
doenças relacionadas com estresse, depressões, dores no peito, pacientes
oncológicos, entre outras. Um estudo feito pelo
HC (Hospital das Clínicas) de São Paulo e pela Universidade do Arizona (EUA)
apontou que o Johrei pode ajudar pacientes que sentem fortes dores no peito,
mas que não apresentam nenhuma doença que justifique as queixas de dor. [3]
Como vimos, aos poucos através de
comprovações e experiências clínicas, de grupos ou até mesmo individuais, os
profissionais de saúde vêm mostrando-se flexível em relação a aceitação dessas novas
racionalidades no campo da prevenção, promoção, tratamento e cura.
CONCLUSÃO
No
decorrer da pesquisa descobrimos e presenciamos relatos, experiências e
depoimentos que mudaram a nossa visão em relação a essa prática, inicialmente
éramos céticas quanto à eficácia da mesma, porém depois dessas descobertas
vimos os benefícios e o empoderamento que o Johrei traz para o ser humano,
apesar de ser considerada como uma prática pouco científica, entretanto tem
estimulado potenciais de cura e fortalecendo a saúde de pequenos grupos de
várias comunidades devendo, portanto ser mais explorada, especialmente no campo
dos processos saúde-doença-cura, de modo a contribuírem no seu enriquecimento
para que se alcance um número maior de beneficiários.
REFERÊNCIAS
Gonçalves, Hiranclair Rosa : Igreja
Messiânica Mundial e suas dissidências:a Religião de Mokiti Okada no Brasil. Revista Nures nº 9 – Maio/Setembro 2008
<http://www.pucsp.br/revistanures> Núcleo de Estudos Religião e Sociedade – Pontifícia Universidade Católica – SP ISSN 1981-156X
<http://www.fmo.org.br/images/artigos/143.pdf> Acesso em 23/07/2012
<http://johreivilarezende.blogspot.com.br/2009/02/johrei-e-felicidade-houve-um-tempo-que.html> Acesso em 23/07/2012
<http://www.solosagrado.org.br/sobre_solo/filosofia_atual.html> Acesso em 23/07/2012
<http://luzdoriente.blogspot.com.br/2008/04/johrei-e-aids.htm> Acesso em 23/07/2012
<http://www.pucsp.br/revistanures> Núcleo de Estudos Religião e Sociedade – Pontifícia Universidade Católica – SP ISSN 1981-156X
<http://www.fmo.org.br/images/artigos/143.pdf> Acesso em 23/07/2012
<http://johreivilarezende.blogspot.com.br/2009/02/johrei-e-felicidade-houve-um-tempo-que.html> Acesso em 23/07/2012
<http://www.solosagrado.org.br/sobre_solo/filosofia_atual.html> Acesso em 23/07/2012
<http://luzdoriente.blogspot.com.br/2008/04/johrei-e-aids.htm> Acesso em 23/07/2012
[3] Fonte: Folha de São Paulo /
Cotidiano1 / pg. C5 / 29 de junho de 2008.
Autoras: Maria da Conceição Ferreira e Jamile Cotinguiba
Autoras: Maria da Conceição Ferreira e Jamile Cotinguiba
Bastante interessante!:)
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